Existem várias formas possíveis de resumir nossa tosca situação política atual e uma delas pode ser essa: os covardes dominaram o bagulho.
Sempre estiveram por aí, obviamente, mas agora estão ouriçados cada vez mais com o deslumbrado poder de suas canetas, seus microfones e suas hordas de robôs linchadores.
Em tempo, que acho que vale o registro: há aí pelo menos dois tipos de covardes. Tem os da espécie digamos, vermes rastejantes, que incluem os augustonunes da vida – e moros, temers, dallagnois, mervais et caterva.
Esses vivem se achando o máximo, revestidos por cargos, posição, dinheiro. Seu poder pessoal é exercido com gosto a cada humilhação a um serviçal ou desafeto mais inteligente. O baronato da imprensa oligopólica do país adora esse tipo de covarde e vive inflando seus egos pra que façam jogo sujo quando precisam. A vaidade os mantém reféns dos verdadeiros poderosos. É um tipo muito encontrado em tribunais, jornalões e várias vezes viram apenas capachos de coroneis e milicianos.
Às vezes até publicam livros de poesia e pagam propaganda com dinheiro público para falaram de si mesmo. Costumam usar de difamação, nas sombras. Têm orgulho de sua inteligência sem perceberem o quanto rasos são. Não admitem em público, mas odeiam o humor porque o humor machuca lá dentro, de com força. Uma palavra que poderia dar uma boa definida nesse tipo seria gentinha.
Mas há também os covardes do tipo valentão, da estirpe dos capitães de plantão aí. O valentão você sabe né, é aquilo: valentões sempre são valentões com os mais fracos. Todo mundo conheceu algum no pátio da sétima série. Quando são confrontados, recuam, dizem que não é bem assim e tal, e saem espumando de raiva diante da constatação de suas próprias fraquezas mal resolvidas. É tipo um filho de capitão desses aí enfrentando uma Jandira: na hora agá do embate desmaiam e literalmente se borram nas calças. São os do tipo que não vão a debates, gostam de bater em mulher, de debochar de pessoas com deficiência. Geralmente precisam ostentar um revólver na cintura e dizer que na ditadura é que era bom. Atualmente uma parte dessa categoria tem um plus que é se arvorar em ser de Jesus mas viver falando em matar todo mundo. Esse tipo de covarde tem orgulho de sua burrice e odeia qualquer coisa que contenha um mínimo de subjetividade e poesia.
A covardia está em alta, é sério, e o pátio é grande e o recreio não termina nunca. O país está entregue aos covardes e isso é muito mal. Muito menos por contas dessas figuras abjetas em si e muito mais pela constatação de que tem tanta gente que acha isso de boa, apoiando essa onda pesada que nos assola, mescla de uma escrotidão criminosa com uma dilacerante idiotice.
Quantos anos essa onda vai durar é uma incógnita, mas dá pra saber é que nós tamos mesmo é muito lascados.
[ heraldo hb – pitacolândia – novembro de 2019 ]