Cafezinho latinoamericano

Hoje, cinco dias da morte de Eduardo Galeano, exato um ano da morte de Gabriel Garcia Marquez, dezoito anos do massacre de Eldorado dos Carajás, e eu mergulhado aqui em uma pesquisa sobre o mestre Nelson Pereira dos Santos e lembrando da Hora de Los Hornos, do Solanas, e de Macondo…
Pausa pra um cafezinho e penso em pessoas e ideias que parecem ter uma costura, uma simbiose, um entranhamento com esse pedaço do planeta conhecido com América Latina. E como sabemos tão pouco sobre essa América, sobre nossos vizinhos, sobre os povos das florestas, os ribeirinhos, os quilombos diversos país a dentro, as plantas, as aves.

Segunda-feira compartilhei um vídeo do Galeano falando sobre utopia e que na verdade é uma citação a Fernando Birri. Fernando Birri, cineasta argentino, um dos criadores da escola de cinema em Cuba, um visionário-lunático-idealista-maluco, ainda vivo com sua barba branca, sua pinta de mestre jedi… Nunca o vi pessoalmente, mas provavelmente seus olhos ainda são de criança. Às vezes me assusta, nas andanças por aí, ver tanta gente jovem em idade, mas já sem brilho nos olhos, sem essa dose necessária de sonho e delírio nas veias.

E aí me lembrei de um curta dirigido por Felipe Nepomuceno, Fernando Birri de Olhos Abertos, que é simplesmente o registro da resposta a um pergunta feita de forma ocasional em um encontro casual. O filme é apenas isso, uma resposta, quase dez minutos apenas de alguém respondendo a uma pergunta. Mas lembro muito bem do impacto que essas palavras tiveram na noite em que foi exibido no nosso cineclube há uns anos… Lembro de olhos marejados, lembros dos aplausos, da aprovação entusiástica da galera, dos urros. Mais do que as palavras de profunda sabedoria, mais do que as imagens construídas por elas na mente e no coração, ainda tem a coisa do áudio, da entonação, do som vindo das entranhas de alguém que vive/pensa/sente a Vida como uma experiência única, apaixonada, solidária e empolgante.
Galeano, Gabo, Nelson, Birri… Sem pieguices, viva a América Latina.
Fim da pausa do cafezinho.

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