Do dia 24 de dezembro pra cá, algumas figuras de grande força na Cultura brasileira fizeram sua passagem para o Mistério, pra Massa Primordial. Como é um momento que tá todo mundo disperso, aproveito pra escrever e deixar esse registro junto, num mesmo contexto.

Teuda Bara, 84, mineira, sensacional atriz de teatro. A vi algumas vezes nas peças do grupo Galpão e sempre foram muito marcantes. Aliás, a montagem do Galpão para Romeu e Juliana, dirigida por Gabriel Vilela, eu vi mais de cinco vezes e lembro bem como a Teuda era destaque absoluto. Figura maravilhosa, desses que você tem vontade de ser amigo.

Mãe Carmen, 98, yalorixá do lendário terreiro do Gantois, era filha de Mãe Menininha. Como diz um famoso provérbio africano, uma biblioteca inteira que se foi. Raiz forte essa.

Odette Ernest Dias, 96, nasceu na França, mas se naturalizou brasileira, caindo fundo na nossa música. Foi da Orquestra Sinfônica Brasileira, pesquisadora, professora, e também fundadora do Clube do Choro de Brasília.

Uma amiga do Maranhão me fala hoje que no dia 24 também faleceu Mãe Elzita, uma das principais referências do Tambor de Mina e das religiões de matriz africana de lá do Estado. Aos 91 anos.

Hoje foi Zé da Velha, aos 84. Exímio músico e figuraça, tocou com Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Donga, Dino Sete Cordas, Manuel da Conceição “Mão de Vaca”, Waldir Azevedo, entre tantos gênios da música brasileira. Seus discos em dupla com Silvério Pontes, “a menor big band do mundo”, são delícias sonoras na melhor escola do sopro brasileiro – e aliás, discos que dá pra catar e ouvir “nas plataformas”.

E, olha que foi um ano que já teve as perdas, entre outras, do mestre Hermeto, do professor Macalé, da Cristina Buarque, da Ângelo Rô Rô, Arlindo Cruz e do Lô Borges, lembrando assim de cabeça.

Um consolo sobre a lista aí de cima é ver que essas pessoas tiveram uma vida longeva, pelo menos isso, mas o que é triste é que essas pessoas e seus imensos legados deveriam estar todos os dias em nossos canais de mídia aberta, que são concessões públicas, e estudadas em nossas escolas. O país perde muito quando não foca na potência, na maravilha universal que é a nossa Cultura e é muito ruim ver nossas molecadas cresceram em massa sem conhecer mais sobre essa riqueza tesuda, diversa e, porque não dizer, civilizatória.

Fecho recomendando acompanhar as inúmeras folias de reis que estão em giro pelo país a dentro. São imagens de grande força e beleza. Aqui na minha cidade, por exemplo, tem o Reisado Flor do Oriente e o Reisado Flor de Primavera, do meu amigo Mestre Bokinha. Não é sobre o passado, é algo incrível acontecendo AGORA. Vale saber.

Um feliz ano novo pra todo mundo e aproveito pra dizer que nosso Amuleto começou sua carreira em festivais por aí nesse mundão – acompanhe nas redes do filme – e que lanço nos primeiros meses do ano um curta bem legal sobre um pedaço importante do samba que envolve Caxias, Mangueira e o Carnaval no Rio de Janeiro.

Que venha 2026.

[ heraldo hb – pitacolândia – dezembro de 2025 ]

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