O cara vai andando pra comprar coisas de comer e pelo caminho, sem perceber, a mente sai do presente e vai vagueando, pensando em problemas, em soluções pra resolver assim que o ano engrenar de verdade, decisões, contas a pagar, pendências urgentes, situações tensas.
O moleque vai ao lado de mãos dadas, no seu jeito peculiar de andar e ver as coisas, e de repente dispara:
– Papai, você sabia que existe o Super-Amor? É, e ele é um herói que tem muitos poderes.
Cinco anos e pouco, idade típica de viver o mundo dos super-heróis e tal, e, pego de surpresa, o cara acaba por achar meio engraçado.
– É mesmo? Não sabia.
– Existe sim, papai, mas eu que inventei. Você gostou?
Voz embarga, mas ainda consegue responder, entre um sorriso e uma lágrima.
– Gostei, cara, gostei muito.
E segue andando mais leve e sentindo o privilégio de estar vivo pra ouvir coisas assim desse moleque.