Talvez
Quem sabe um dia
Por uma alameda do zoológico ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo o que não pudemos amar na vida
Com o estelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Por que sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe, minha vida
Para que não mais existam
Amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
Que sacrificar-se
Por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja pelo menos o universo
E a mãe
Seja no mínimo a terra
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[Poema O Amor, de Maiakovski, adaptado por Caetano Veloso]
sobre o sentimento de ontem à noite, na Cinelândia
[ apareceu na minha timeline de rede social ontem esse poema, essa versão adaptada, com uma foto da Marielle. Fiquei tocado, mas na confusão da tristeza não reparei em quem postou a ideia. Bom, eu amo muito esse poema, nas duas versões em português, e ele me veio à mente muitas vezes mesmo na noite de ontem, pelas ruas do centro do Rio.
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foto: mídia ninja