Saí ontem pra votar com minha camisa do Lula, levemente adesivado, e já tenso com a antevisão do clima das ruas nessa tumultuada eleição. E olha que há seis meses eu nem acreditava que ela rolaria…
Na programação do dia, passar por dois pontos de votação em Caxias, a minha zona e uma zona num bairro dominado por uma sinistra milícia; depois atravessar Belford Roxo pra um churrasquinho relax na casa de amigos. Vi muita hostilidade, pequenas provocações como arapucas, muita comemoração de milicianos, mas o que ficou marcado na mente mesmo foi uma criança no Lote XV, acompanhada de vários adultos, gritando com toda força “ladrão” em minha direção. Uma criança. Provavelmente da idade de meu filho. Me fez lembrar um filme, Promessas de um Mundo Novo, em que o documentarista acompanha a convivência de crianças palestinas e israelenses em Israel, onde eles brincam amorosamente, criam, inventam jogos, compartilham coisas, e com o tempo vão aprendendo a se odiarem. Sim, o ódio é aprendido.
Ontem na Bahia mataram o mestre Moa do Katendê, um homem negro, sereno, sábio, mestre da cultura popular, um guerreiro da luta contra o racismo. Foi morto a facadas por um eleitor do Bolsonaro simplesmente por declarar seu voto contrário.
Penso que poderia ter sido eu; poderia ter sido um dos meus mestres, um de meus amigos. Nos últimos quinze dias quatro pessoas próximas sofreram sérias violências em situações corriqueiras, sendo duas por serem mulheres desacompanhadas na noite, um por orientação sexual e um por ter opiniões firmes contra o tal candidato. Gente ensandecida com a onda fascista, com o salvo conduto que essa onda está dando para se promover atrocidades sem pudor.
O ódio está à solta e anda cultivado com muito agrotóxico pela candidatura do deputado fascista.
Independente do resultado das eleições teremos que lidar com esse perigo, que a cada vez chega mais próximo. É hora de criar uma rede de proteção e vigilância. É urgente desarmar essa bomba.
Muita coisa vem à mente, mas na verdade o que mais pensei hoje foi como aquela criança lá em Bel poderia aprender tanto com o Mestre Moa, utopia de um encontro mágico, de um Brasil que poderia ter dado muito certo.
E dindindin lá vai viola.
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#pitacolândia – heraldo hb – outubro2018