Esse ano completa a data redonda de 50 anos do golpe civil-militar, que semeou terror de Estado, concentração de renda e uma machadada na nossa frágil democracia; e me parece que tem tudo pra chapa esquentar alguns graus na chegada do 31 de março/primeiro de abril.
Um exemplo: assistindo agora na madruga da TV Brasil um documentário sobre o grande educador Anísio Teixeira, fica no ar a questão em aberto de sua morte suspeitíssima no Rio de Janeiro, encontrado no fosso de um elevador, quando ia visitar o acadêmico Aurélio Buarque de Holanda… Tá no rol de mortes (assassinatos?) como as de Juscelino, Jango, Zuzu Angel e outros que faleceram em acidentes altamente estranhos e que nos últimos anos vem sendo apurados com mais atenção, alguns com apoios importantes de documentos vazados pelo Wikileaks.
Vou muito a escolas por conta de trabalho e às vezes fico chocado como há uma maioria da molecada que não tem ideia de que o país passou por um processo tão brutal como a ditadura pós-64. Fica uma impressão de que nada aconteceu, chegando à situação bizarra de ver professores falando de uma suposta saudade “daqueles tempos onde não tinha essa bagunça”. Dá medo.
Mas em compensação, nos próximos meses tenderá a crescer os questionamentos da sociedade civil sobre o assunto e no país todo haverá pressão.
Apesar dos méritos de grupos como o Tortura Nunca Mais e dos membros da Comissão da Verdade, o fato é que em matéria de punição o país passou batido, longe de vizinhos como a Argentina, por exemplo. Me lembro de ouvir quando moleque os argumentos de que seria preciso evitar o “revanchismo”, e que a Anistia tinha resolvido tudo, o que passou, passou, foi mal aê, cada um com seu prejuízo…
Mas há ainda que se sacudir muito essa poeira densa escondida embaixo do tapete do país, sob pena de nunca conciliarmos Justiça e História nesse período de chumbo.
E ainda tem as curiosidades sinistras nesse assunto como o fato de termos, por exemplo, um José Genoíno preso e um Brilhante Ustra solto, pra ilustrar. E megaempresas, incluindo algumas grandes de comunicação, que apoiaram ostensivamente a ditadura na Operação Bandeirantes, dando apoio logístico para torturar e sumir com pessoas dissidentes do regime – todas posando de boas moças, em geral cagando regras morais.
E quando assumo que sou paranoico é porque a paranoia tem certa importância e esse exemplo cabe bem: quando a esquerda falava do apoio norteamericano ao golpe, sempre se rechaçava isso com o discurso de que era paranoia, que não tinha nada a ver e coisa e tal. Foi preciso a abertura dos arquivos do Lyndon Johnson pra galera admitir o óbvio: a parada foi orquestrada com afinco. No ano passado, mais documentos vazados foram desmontando argumentos toscos como por exemplo o de que o Jango não tinha apoio popular; e mostrando que os setores militares foram sim cooptados pelo poder golpista, muitos de fato traindo o governo legítimo.
Difícil passar o país a limpo sem mexer nesse assunto e a História é foda: ela é implacável.
Vamo ver; esse cinquentinha promete…