15/02 ou o espaço mete meteoros

Hoje, 15/02/14, faz um ano que um meteoro desavisado, desses que ficam zanzando aí pelo espaço sideral, bateu no nosso planeta, invocadamente, ferindo mais de mil pessoas na gelada Rússia, aquela que um dia foi o coração da União Soviética.

Isso sem que os cientistas pudessem ter dado nenhum toque antes nem nada. Na cara dura, sem nenhum bilhete por baixo da porta, sem dar nenhuma pinta de que viria pra dar um sacode.

A queda desse meteoro é um episódio que revela tanta coisa sobre estar vivo nesse planeta que parece que por isso mesmo o esquecimento é providencial, pra móde não nos pilhar mais do que já estamos, absortos entre nossas certezas e nossa fragilidade incômoda…

E foram mais de mil feridos porque o tal asteroide foi cair justo lá em riba, naquela região onde o ser humano habita com muito custo, prova de resistência e adaptação de nossa intrépida espécie. Porque se fosse em alguma capital densamente povoada do centro do capitalismo a coisa ia atingir índices de catástrofe mesmo. Se cai numa Nova Iorque ou numa Londres da vida, além das milhares de mortes, o estrago econômico que se daria ia mexer pelo menos um pouquinho com as estruturas neuróticas em que nosso sistema ocidental está aprisionado. Um meteoro desses mandando pra o ralo a Bolsa de Nova Iorque, Tóquio ou Frankfurt, ia bagunçar muito com a roleta do cassino, onde cada minuto representa milhões de dinheiros sendo canibalizados em nome do acúmulo e da agiotagem. O tempo de recuperação do sistema (dias? Meses? Anos?) seria uma brecha onde a própria natureza nefasta desse mecanismo poderia ser questionada mais a sério. Talvez um meteoro punk desses pudesse nos dar a chance de um refresco nessa máquina mortífera de juros e coação. É de se pensar.

Mas a principal mensagem deletada desse fato trágico é que, no fundo, a Ciência não pode nos garantir muito além do que podia garantir ao sujeito que morava lá nas cavernas, na noite dos tempos. Se com todo o avanço tecnológico conquistado ao longo dos séculos ainda não é possível prever um meteoro como esse de entrar e fazer esse estrago todo… Quem pode garantir que algum outro corpo desses não pinte por aí e leve de roldão um caralhão de vidas e certezas e crenças e territórios e egos e fortunas e soberbas?

Há um ano que foi pro espaço a noção de que a Terra está de boa, numa relax, numa tranquila. No fundo, a verdade dói, mas é a real: somos um grão de areia metido a besta na grandeza de um Universo que até hoje não compreendemos… E que é onde preenchemos com nossas fantasias, nossas pretensas conquistas e nossas experiências vividas, aquilo que levamos para nossos túmulos

Nunca a mensagem de humildade e compaixão foi tão premente na vida dos seres humanos sobre esse planeta azul cheio de poesia e contradição. Então, vale se ligar: semeando e vivendo, o momento cada vez mais é o agora.

 

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