Precisamos falar sobre a tv aberta…

Assistindo em dois canais de TV aberta dois episódios que deveriam ser corriqueiros no dia de hoje, a ida às urnas de Dilma e de ForaTemer, dá pra sacar como a comunicação é peça fundamental da engrenagem de construção do pensamento coletivo nacional (uma construção cada vez mais difícil mas ainda pesada).
Ida de ForaTemer à urna: cagão que só a porra, o sujeito vai o mais cedo possível, tentando despistar todos, sem publicar na agenda oficial, o que não impede de topar com protestos (cada vez mais frequentes). Imagens via internet: a descrição corresponde ao fato. Imagens via televisão: planos fechados no cara, sorridente ao lado de sua mulher sorridente, câmera contida, cortes rápidos, textinho falando que o sujeito queria mesmo ir cedo pra evitar filas e tal, musiquinha simpática ao fundo, declaração dada às pressas da pessoa falando sobre a importância da democracia, fechando com uma fala do apresentador super simpática ao precavido ser. Uma aula de audiovisual.
Ida da Dilma: polícia impede violentamente que a imprensa acompanhe o voto dela; dezenas de jornalistas pra cobrir esse fato, que seria corriqueiro, e dezenas de pessoas indo ao encontro da presidenta em apoio, populares, mulheres com flores, abraços. Imagens via internet: a descrição corresponde ao fato. Imagens via televisão: presidenta provoca confusão ao votar. Planos do rosto fechado de Dilma, imagens dos vidros quebrados. No SBT, o repórter pelo menos teve a dignidade de apontar a câmera para a truculência da polícia e dizer que era absurdo. Mas nos dois canais a edição segue e o texto da locução deixa no ar a mensagem que a culpa é mesmo da sujeita e ainda termina com a imagem de um juiz dizendo que a polícia agiu acertadamente.
Cada vez mais tem gente (entre amigos, até), me chamando de monotemático, de “petista”, bolivariano, (até de anacrônico um dia desses nos inbox da vida); mas tenho conviccão em repetir: a televisão aberta no Brasil é inimiga da democracia, parcial e historicamente golpista.
O fato é que sem discutir a sério o oligopólio da comunicação no país as coisas demorarão ainda muito tempo pra mudar de verdade.

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