Dilma em coletiva de imprensa mandando a real

Sugestão de vídeo e comentários pra perder amizade de facebook. (Atenção: pra quem já tá esperando um momento pra desfazer amizade comigo, uma boa chance é agora).

Uma das constatações sobre Dilma é que seu maior mérito também é um de seus maiores defeitos, e vice-versa, que é o fato de não ser “política”. Dilma é aquilo que é chamado na burocracia de quadro técnico, no caso um quadro técnico de grande força.

Mas política, como é colocada na prática do país, é outro lance e nisso ela realmente deixa bastante a desejar. Ou deixava: porque os últimos lances dessa crise têm mostrado que ela está entendendo qualé desse jogo e que resolveu jogar também, revelando talvez um retorno à sua época de convivência no trabalhismo brizolista lá no sul – caso desse vídeo aqui, estatal, onde ela assume a política a la Neo na cena clímax do filme Matrix. Vai saber…

Lembro sempre que das principais discordâncias que tenho com Dilma Roussef – que é a mesma que tenho com Lula – é sua crença obstinada na visão desenvolvimentista, cujos pilares são tratores, literalmente, quando não se tem gente próxima pra tensionar e pressionar. Isso é um fato sobre o qual costumo falar sempre e não me alongarei aqui.

Mas, olha, cada vez mais essa mulher tem me fascinado – sobremaneira nesse momento agudo da história do país.

Nesse vídeo (pode pular os 8 minutos iniciais), suas olheiras revelam muito sobre o momento tenso, sobre o impacto fisiológico da crise em seu corpo, a pressão gigante, as poucas horas de sono, a necessidade de estar atenta e alerta o tempo todo, as armadilhas e pegadinhas diárias, a convivência com os traíras em volta…

São 19 minutos e dos 9 aos 17 ela mostra uma lucidez e uma garra que revelam uma mulher com uma enorme força mesmo. E que, ao contrário do que diz aquela revista escroque, está muito segura do momento em que está vivendo e seus possíveis desdobramento na História.

Dá pra ver uma mulher que ficou presa três anos; foi torturada; achincalhada diariamente por uma porrada de setores que não suportam ver uma mulher no poder; uma oposição que não aceitou perder e que desde novembro de 2014 força a barra pra paralisar o país; xingada nas arenas poliesportivas em dia de seleção da cbf; que sofre incessantes insinuações sobre sua vida particular, vida sexual, sobre saúde, sobre “descontrole emocional”…

E curiosamente uma das poucas figuras no meio político federal que não está em nenhuma das listas dos vergonhosos escândalos de corrupção que grassam por aí, devassadas e tornadas públicas, mas divulgadas seletivamente. O que faz com que meus amigos e amigas que defendem a retirada dela tenham que admitir qualquer motivo para isso, MENOS o da corrupção, que é esse motivo vendido midiaticamente pelo movimento golpista. Aliás, argumento de corrupção que foi usado em vários momentos do país pra nos afundar em longos períodos tenebrosos. Estudar História no mínimo tem alguma utilidade…

Continuo achando o que sempre achei, essas cinco ou seis coisas que me fazem um chato repetindo toda vez: ainda teremos um longo caminho pra incluir cada vez mais gente no mínimo da dignidade humana e pra isso o Estado vai ser fundamental, nos limites da onda neoliberal que ronda o mundo; as lutas pelos direitos humanos básicos e pela vida nas favelas do país não podem parar; precisamos superar o racismo e o patrimonialismo estruturais; governos precisam de pressão popular; precisamos da revolução do saneamento básico pra todos; e precisamos aprofundar e radicalizar a democracia, que significa em palavras simples fortalecer mecanismos eficientes contra os monopólios da terra, da comunicação e sobretudo da renda.

Quem falou que construir um país é fácil e rápido?

Estou com Dilma nesse momento e não me envergonho disso.

Ps: e, porra, Tânia, senta lá, caceta.

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